trabalho de resumo
Primeiras Palavras
Cíntia Barreto
Antes de compreender a literatura feita para crianças sob o título de infantil, é preciso considerar alguns pontos. É necessário observar que os primeiros livros produzidos para crianças surgiram no final do século XVII e durante o século XVIII. Isso porque, anteriormente, o conceito de infância não existia.
A concepção de infância surge a partir do século XVIII com as modificações na sociedade. A visão em relação à criança muda, a partir disso. Ela deixa de ser tratada com negligência e ganha espaço no seio familiar. Assim, ao contrário da visão da Idade Média, em que a criança é tratada e retratada como um "adulto em miniatura", no "Século das Luzes", surge um forte sentimento de felicidade em relação à criança.
A literatura infantil brasileira surge no final do século XIX. Antes disso, circulavam livros infantis representados por edições portuguesas de forma escassa e irregular. Com o tempo, começaram a coexistir traduções nacionais como as de Carlos Jansen, Contos seletos das Mil e uma noites (1882), As aventuras do celebérrimo Barão de Münchhausen (1891) e Robinson Crusoé (1885). Dessa forma, o início da literatura infantil, assim como da literatura (adulta), sofreu influência de temas e histórias européias que foram adaptadas para a linguagem local.
Figueiredo Pimentel foi um dos autores que se encarregou de copiar e adaptar histórias infantis européias, publicando os Contos da Carochinha (1894) entre outros. Com ele, começam a circular, assim, versões nacionais de contos de Charles Perrault, dos irmãos Grimm e de Christian Andersen. Na narrativa de autoria feminina, destaca-se Júlia Lopes de Almeida que escreveu, no fim do século XIX, Contos infantis (1886) junto com sua irmã Adelina Lopes Vieira. São de Júlia Lopes ainda Histórias da nossa terra (1907) e Era uma vez (1917).
Com adaptações abrasileiradas, percebe-se um movimento de nacionalização da literatura para crianças no mesmo molde que ocorria com a literatura destinada a adultos. Nesse sentido, os temas que exaltam a pátria, de alguma forma, instauram-se na literatura infantil. Olavo Bilac e Coelho Neto, com seus Contos pátrios contribuem com a missão patriótica desses textos literários infantis. Concomitantemente a esse movimento cívico, observa-se a função pedagógica dos primeiros escritos para crianças. Comumente, os livros infantis são difundidos na escola e apresentam temas ligados à obediência, à dedicação à família, à bondade, à idealização da pobreza etc. Regina Zilberman e Marisa Lajolo no livro Um Brasil para crianças: para conhecer a literatura infantil brasileira: história, autores e textos, indicam os textos "A pobre cega", "A boneca", "A casa", "Em caminho" e "Vozes de animais" como exemplos de textos que endossam as temáticas mencionadas.
Com o movimento modernista brasileiro, Monteiro Lobato publica A menina do narizinho arrebitado (1921). Dez anos depois, o autor publica Reinações de Narizinho no qual reúne a história revista do primeiro livro e outras histórias que havia escrito até aquele momento. Depois dele, muitos autores da geração de 30, animam-se a escrever para crianças e, nesse momento, surgem obras como A terra dos meninos pelados (1939) e Alexandre e outros heróis (1944) de Graciliano Ramos e Cazuza (1938) de Viriato Correia.
Vale citar que a literatura infantil brasileira teve, inicialmente, preferência pela paisagem rural. Monteiro Lobato com seu Sítio do Picapau Amarelo reforça essa tendência. Isso, na verdade, não teve origem no Brasil. Não se pode perder de vista que a nossa literatura sofreu influência européia e, por sua vez, aproveitou fábulas, textos folclóricos bem como contos de fadas que mantinham o campo como motivo espacial. Desse modo, percebe-se a ambiência rural predominante nas narrativas destinadas a crianças. Aos poucos, o espaço urbano foi se destacando e ganhando lugar nos textos infantis. O espaço rural, nesse sentido, ganha atributos utópicos (idealizados) enquanto o urbano distópicos (reais). O Sítio do Picapau Amarelo simboliza o Brasil rural, o Brasil ideal. Ele é um espaço utópico.
Atualmente, são muitos os textos destinados ao público mirim. Antes de aprofundarmos nossos conhecimentos a respeito da literatura infantil brasileira, é preciso observar como ela é vista hoje. Não raras vezes, a literatura feita para crianças é discriminada e tomada como gênero menor ou subgênero.
Com a abertura no cenário editorial para a literatura direcionada aos leitores iniciantes, essa visão foi sendo vencida. Agora é grande o número de títulos considerados infantis circulantes em universidades e figurando, inclusive, como objeto de estudos acadêmicos como dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Superando o caráter pejorativo inicial, a literatura considerada infantil é de interesse não apenas do público mirim, mas também de adultos por concentrar em sua linguagem vários recursos simbólicos que permitem o brincar com as palavras, imagens e sons. Tais recursos possibilitam o exercício interpretativo consciente da plurissignificação do texto literário.
A produção literária, nos dias de hoje, acontece em grande escala. Nesse contexto, é preciso saber distinguir o bom texto do texto descuidado. A criança é uma leitora exigente e merece ser tratada com respeito. Dessa forma, o escritor que escreve para ela deve estar ciente das potencialidades dessa leitora afeita a abstrações e sedenta por diversas respostas sobre o mundo externo e seu próprio mundo interno. A criança é mais do que todos nós um ser curioso que está descobrindo sempre as coisas da vida, por isso também o livro deve contribuir para a sua experiência estético-litero-cultural.
A literatura infantil é importante na formação crítica e reflexiva do sujeito. Por isso, mais do que estar a serviço do hábito da leitura é preciso compreender a literatura infantil como veículo de formação intelectual do sujeito, portanto como promotora de conhecimento crítico e reflexivo sobre o mundo interno e externo da criança. Assim, a literatura (infantil) destina-se também a jovens e adultos. É comum um adulto retornar a leituras que lhes marcaram a infância e deixaram um sentimento de prazer que o levou, muito provavelmente, a outras leituras. Ele volta ao livro infantil sequioso por "recuperar" aquele primeiro momento: o do prazer e a magia exercida pelos textos lidos naquela fase da vida.
Isso é possível porque os textos de qualidade literária são atemporais e permitem o deleite do leitor em qualquer tempo e idade. No entanto, quanto maior for o conhecimento de mundo e o repertório do leitor mais inferências e intertextualidades ele será capaz de realizar. De qualquer forma, quem possui menos bagagem cultural ou menos leituras não deixará de fazer suas inferências e intertextualidades e isso é o que mais emociona na literatura infantil: a plurissignificação tanto textual quanto imagética. A criança é capaz de fazer inferências e diálogos com textos e refletir sobre sua vida e a que a cerca. Isso é muito importante e deve ser respeitado em todos os sentidos. O escritor para crianças não pode subestimar as potencialidades de seu público-alvo.
Conforme observa Walter Benjamin, "a criança mistura-se de maneira muito mais íntima do que o adulto. É atingida pelos acontecimentos e pelas palavras trocadas de maneira indizível, e quando a criança se levanta está inteiramente envolta pela neve que soprava da leitura." (2002, p. 105).
Segundo Nelly Novaes Coelho, a literatura feita para crianças é "o meio ideal não só para auxiliá-las a desenvolver suas potencialidades naturais, como também auxiliá-las nas várias etapas de amadurecimento que medeiam entre a infância e a idade adulta" (2000, p. 43, grifo da autora). Por esse prisma, entende-se que o livro destinado à criança serve como meio de desenvolvimento psicológico e emocional, interferindo, assim, na formação futura de sua identidade.
Isso reforça a idéia de que as histórias infantis fazem parte do imaginário da criança. Nesse período, ela é apresentada ao mundo e, no contato com a ficção, pode ler a realidade circundante. Desse modo, no período de amadurecimento, as histórias infantis, sobretudo os contos de fadas, são elementos decisivos na formação da criança em relação à identificação de sua imagem e do mundo que a cerca. A partir de uma linguagem simbólica, é possível à criança compreender alguns valores relativos ao convívio social e à conduta humana. Segundo Naomí Paz:
Recoberto com seus fabulosos trajes simbólicos e com suas esquemáticas simplificações morfológicas, o conto de fadas nos mostra as linhas básicas do destino humano, a evolução pela qual todos os seres devem passar. (PAZ, 1989, p. 18)
Segundo o psicólogo infantil Bruno Bettelheim, o conto de fadas favorece o desenvolvimento da personalidade da criança, pois esclarece pontos sobre ela mesma, ao mesmo tempo que a diverte. Diz ainda:
Como sucede com toda grande arte, o significado mais profundo do conto de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida. A criança extrairá significados diferentes do mesmo conto de fadas, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. Tendo oportunidade, voltará ao mesmo conto quando estiver pronta a ampliar os velhos significados ou substituí-los por novos. (BETTELHEIM, 2004, p. 20-21)
Conforme afirma Bruno Bettelheim, "há um tempo certo para determinadas experiências de crescimento, e a infância é o período de aprender a construir pontes sobre a imensa lacuna entre a experiência interna e o mundo real" (2004, p. 83). Nesse sentido, a literatura infantil está a serviço desse propósito de mediar o contato entre a criança, seus sentimentos e o mundo que a cerca. O livro infantil, de certa forma, contribui para o entendimento dos conflitos externos e internos do sujeito-infante.
É importante acrescentar que antes de pensarmos em literatura infantil devemos pensar na própria leitura. Ler um texto significa ler o mundo e sua plurissignificação. Um texto literário é permeado de intertextualidade, de conotações, permitindo-nos reflexão, inferências e críticas. Desse modo, a literatura infantil deve impulsionar todos esses movimentos. Não se pode utilizar um texto literário apenas para ensinar algo. Isso diminui os propósitos da literatura que são de fazer pensar, emocionar, interagir e agir. A literatura é a arte da palavra e a literatura infantil é mais rica em possibilidades analíticas do que muitos textos considerados adultos, pois promove a interação da linguagem verbal com a não-verbal. Assim, o leitor precisa ler dois textos ao mesmo tempo: o escrito e o imagético. Tamanha riqueza literária não pode ser desperdiçada com práticas pedagógicas que retirem o primeiro objetivo do texto literário: o "prazer".
Por fim, fica registrado aqui que a literatura infantil tem de se preocupar com este público-leitor curioso que inicia suas leituras e merece ser tratado como um ser que pensa, critica, emociona-se e se deixa levar pela história, muitas vezes, identificando-se com ela e formando assim sua opinião sobre vários assuntos apresentados.
Trabalho para ser entregue em 28 de outubro IMPRETERIVELMENTE
Resumir o texto: Primeiras Palavras de Cíntia Barreto
Deverá ser feito em DUPLA.
Regras:
1. O texto deverá ser DIGITADO com a seguinte formatação:
a) Fonte: Arial sem negrito, tamanho 12
b) Margem: todas 2cm (direita, esquerda, inferior, superior)
c) Espaçamento de parágrafos: antes: 0 depois 6pt
d) Espaçamento de linhas: 1,15 pt
e) Não usar negrito, nem itálico
2. O texto original possui 22 parágrafos divididos em 138 linhas. Seu objetivo é resumir o texto entre 45 e 50 linhas divididos em 5 a 7 parágrafos.
3. Colocar no início algumas palavras-chave: mínimo três e no máximo seis, em ordem alfabética.
4. A capa deve conter:
a) Título do trabalho
b) Escola
c) Aluno, número e turma (em ordem alfabética)
d) Disciplina, professora
OBSERVAÇÃO:
1. Qualquer dúvida com relação à elaboração do trabalho ou da formatação, entre em contato com a professora pelo facebook do grupo, pelo e-mail: rtbraga@ig.com.br ou em sala até dia 25 de outubro. Se precisar de ajuda para ensinar a formatar, pergunte aos colegas ao à professora, com ANTECEDÊNCIA.
2. O trabalho vale 3 pontos. E deverá ser entregue durante a aula da turma no dia 28 de outubro. Só será aceito fora do dia da entrega mediante atestado médico.