ARCADISMO E NEOCLACISSISMO
ARCADISMO
NEOCLACISSISMO
SÉCULO XVIII
O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento que compreende a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII, início de 1700. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).
Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega que perpassa o movimento.
A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz respeito. O arcadismo é o período que caracteriza a segunda metade do século XVII, tingido as artes de uma nova tonalidade burguesa.
Vive-se agora, o século das luzes, o iluminismo burguês, que prepara caminho para a revolução francesa. Por essa razão muitos poetas do arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos.
Caracteriza-se ainda pelo recurso a esquemas rítmicos mais graciosos. Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime.
Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade, conceito originalmente expresso por Jean-Jacques Rousseau, na figura do “bom selvagem”
Os árcades rejeitaram a linguagem rebuscada da poesia barroca e buscaram inspiração na Antiguidade (grega e romana) e em Camões.
As histórias da mitologia grega voltaram a inspirar os pintores, como esta obra do francês François Gérard(1770-1837), O primeiro beijo de Amor em Psiquê , 1798.
Observe que o artista pintou as duas figuras como se fossem estátuas de mármore, lembrando assim a arte dos antigos escultores gregos .
Além da Arcádia, o Parnaso também era, para os gregos, local de reunião de artistas e poetas. No século XIX, os poetas parnasianos tentaram resgatar o ideal do Parnaso.
No século XVIII, Arcádia passa a designar as agremiações de poetas que se reuniam para restaurar o estilo dos poetas clássico-renascentistas.
Nas Arcádias Literárias, observava-se um princípio fundamental: a poesia ali produzida deveria seguir as regras clássicas, por isso, a expressão Neoclassicismo passou a ser utilizada muitas vezes como sinônimo do Arcadismo.
Bucolismo
O bucolismo (integração serena entre o indivíduo e a paisagem física) torna-se um imperativo social, e os neoclássicos franceses retornam às fontes da antiguidade que definiam a poesia como cópia da natureza.
O modelo de vida ideal adotado pelos autores do período envolve a representação idealizada na natureza com um espaço acolhidos, primeiramente, alegre. Os poemas apresentam cenários em que a vida rural é sinônima de tranquilidade e harmonia.
Pastoralismo
Harmonia entre os homens e os animais (pastoralismo) e a referência arquitetônica à Grécia - concluindo ser esta uma representação da Arcádia,
Um dos aspectos mais artificiais da estética árcade é o fato de os poetas e de suas musas e amadas serem identificados como pastores e pastoras. A troca dos nomes dos membros das Arcádia era uma forma eficiente de eliminar as marcas de sua origem nobre ou plebeia.
A influência do classicismo
O classicismo é caracterizado por elementos como o equilíbrio, a harmonia, objetividade, proporção, serenidade, luminosidade e transparência, racionalidade e retorno a ambiguidade greco-romana.
E a natureza concebia essencialmente em termo da razão, regidos por leis que refletissem tal harmonia.
Chamou-se “Renascimento” em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista.
O classicismo compreende a época literária do Renascimento, no qual o homem tem a visão antropocêntrica do mundo, ou seja, o homem como centro de todas as coisas.
Os renascentistas prezavam as obras clássicas, já que tinham a convicção de que a arte tinha alcançado sua perfeição.
Assim como os renascentistas, os escritores árcades pretendiam retomar o estilo clássico, contudo com uma nova maneira, denominada de Neoclássica, de observar as considerações artísticas abordadas naquele período, como a razão e a ciência, conceitos oriundos do Iluminismo.
O Iluminismo
O Iluminismo é determinado pela revolução intelectual ocasionada por volta dos séculos XVII e XVIII, o qual trazia como lema: liberdade, igualdade e fraternidade, o que influenciou os pensamentos artísticos da época na Europa, e principalmente a Revolução Francesa, a independência das colônias inglesas da América Anglo-Saxônica e no Brasil, a Inconfidência Mineira.
O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutela que eles mesmos impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão, independentemente da direção de outrem.
O novo modo de analisar a cientificidade e a racionalidade da época árcade fugia das convenções artísticas da época, já que os escritores retomam as características clássicas, como:
v bucolismo (busca de uma vida simples, pastoril), exaltação da natureza (refúgio poético, em oposição à vida urbana),
v pacificidade amorosa (relacionamentos tranquilos),
v a mitologia pagã,
v clareza na escrita com utilização de períodos curtos e versos sem rima.
v Os poetas árcades são frequentemente citados como fingidores poéticos, pois escrevem sobre temas que não correspondem com a realidade do período histórico, visto anteriormente.
v Um dos principais escritores árcades foi o poeta latino Horácio, que viveu entre 68 a.C. e 8 a.C., e foi influenciador do pensamento do “carpe diem”, viver agora, desfrutar do presente, adotado pelo Arcadismo e permanente até os dias de hoje.
v Os principais autores do Arcadismo brasileiro são: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Santa Rita Durão.
MOMENTO HISTÓRICO
no mundo
v Revolução Gloriosa (Inglaterra, 1688);
v Revolução Industrial (Inglaterra, 1760);
v Independência dos EUA (1776); Revolução Francesa (1789);
v Progressivo descrédito das monarquias absolutas;
v decadência da aristocracia feudal;
v crescimento do poder da burguesia.
no Brasil
v Inconfidência Mineira (1789).
v PENSAMENTOS DA ÉPOCA
v Iluminismo: O uso da razão como meio para satisfazer as necessidades do homem.
v Os movimentos pela independência do Brasil, como a Inconfidência Mineira, por exemplo, inspiraram-nas nas ideias iluministas.
v Laicismo: Estado e igreja devem ser independentes, e as funções do Estado, como a política, a economia, a educação, exercidas por leigos.
v Liberalismo: ideologia política que defende os sistemas representativos, os direitos civis e a igualdade de oportunidades para os cidadãos.
v Empirismo: corrente filosófica que atribui à experiência sensível a origem de todo conhecimento humano.
CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO
v inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uraguai(gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
v influência da filosofia francesa;
v mitologia pagã como elemento estético;
v o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril;
v tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
v pastoralismo: poetas simples e humildes;
v bucolismo: busca pelos valores da natureza;
v nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
v tom confessional;
v estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
v exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
v Curiosidade:
v Os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.
Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico.
v Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.
v Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;
v Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos;
v Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente.
ARCADISMO EM PORTUGAL
CONTEXTO HISTÓRICO
v Marco introdutório do Arcadismo em Portugal: Fundação da Arcádia Lusitana (1756).
v Academias Literárias: Agremiações que tinham por objetivo promover um debate permanente sobre criação artística, avaliar criticamente a produção de seus filiados e facilitar a publicação de suas obras.
ü Academias árcades mais importantes: Arcádia Lusitana e Nova Arcádia (1790).
v Na primeira metade do século
Ø O reinado suntuoso de D. João V vive as grandes riquezas do ciclo do ouro de Minas Gerais;
Ø Desperdício, obra monumentais;
Ø Manutenção da Inquisição;
Ø Influência aristocrática e clerical;
Ø Monarquia absolutista.
v Na segunda metade do século (1750-1777)
Ø O déspota esclarecido Marquês de Pombal, ministro de D. José I, procurou, com reformas, alinhar Portugal com a Europa iluminista.
O Neoclassicismo corresponde ao período do governo pombalino.
Em 1759, Pombal expulsa os jesuítas dos domínios portugueses. Tal fato acelera a marginalização do clero na vida lusitana e estabelece o fim da influência e do ensino jesuítico.
Poesia no Arcadismo
Os poetas arcádicos, angustiados com os problemas urbanos e o progresso científico, propõem a volta à simplicidade da vida no campo e o aproveitamento do momento presente.
Embora citadinos, recriam, em seus versos, paisagens bucólicas de outras épocas, verdadeiros fingimentos poéticos, usando pseudônimos gregos e latinos, imaginando-se pastores e pastoras amorosos, numa vida saudável idealizada, sem luxo e em pleno contato com a natureza.
A poesia árcade se realiza através do soneto, com versos decassílabos e a rima optativa, e a tradição do épico, retomando os modelos do Classicismo do século XVI.
Apenas vi do dia a luz brilhante
Bocage
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.
Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.
Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da Pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.
E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
Estrutura interna:
1ª parte, constituída pelas quadras e pelo 1º terceto, na qual o sujeito poético nos dá conta do infortúnio com que o Destino o marcou à nascença, ao ponto de lhe ter roubado a mãe, quando ainda era criança, e de o ter afastado da Pátria e do resto da família (pai e irmãos);
2ª parte, constituída pelo último terceto, na qual o sujeito poético, utilizando uma comparação antitética que estabelece com a «insana multidão», confessa apenas suspirar pela paz da sepultura;
Nota: talvez seja de reparar o fato de o sujeito poético não se ter coibido de utilizar o termo morte (devorante), quando referido à mãe (vv 5/6), o que evidencia o quanto, para si, foi dolorosa, ao passo que, no final, porque é uma aspiração sua, e já pacificada, utiliza um eufemismo.
Aspectos psicológicos:
- caráter sanguíneo (marcado pelos Destinos (vv 3/4))
- carente de afetos (vv 5/8)
- desejoso da morte (v 14)
Elementos neoclássicos:
- a forma (soneto)
- o vocabulário alatinado (empório, devorante, vagando, insana)
- a presença da mitologia (Túbal, Destinos, Marte)
Elementos românticos:
- o caráter autobiográfico
- o individualismo
- o tom confessional
- a crença no fatalismo de que vítima